*Por Beá Moreira
Eu escuto, por sobre os ombros, teu rugido, feroz e roufenho!
Eu sinto o roçar sutil sobre a pele, sobre o meu cenho. Nos momentos de reflexão, percebo o calor, e te tenho.
Sinto suas garras arranhando meu ser, sinto suas unhas fincadas no meu cerne, em minha carne, no meu corpo, a arder.
Sinto seu bafo, ofegando em meu pescoço, sinto o arfar da sua respiração. Escuto murmúrios, te ouço. Parece que estás ao alcance da mão. Mas, não, é falso… Só pretensão.
E eu reconheço seu cheiro de fera enjaulada, de ferrugem, sua questão incisiva! Decisiva.
E eu me vejo resignada, à espera, perdendo a razão, ao léu,
E eu, à deriva.
Só e mutilada. Calada.
Ele no meu peito: qualidade! Eu, defeito!
Nó! Eu e meus medos.
Tu, nu, sem segredos.
Passas por mim a correr.
Eu te persigo.
Mas eu não consigo,
Te alcançar, te agarrar, te ter.
Tu és corcel galopante.
És vento encanado, constante.
Você é areia entre os dedos.
Você é mistério e segredos.
E você irrompe, intenso e liberto.
E então, você passa, é certo.
Te vejo escoando,
Te sei se esgotando.
Te sei ao longe, e tão perto.
Não te venero. Mas te respeito.
Não te espero, mas aceito.
Te quero, mas, também te rejeito.
Receio. Persiste.
Estaca fincada no peito. Em riste.
Limite?
Você é sem fim, não existe.
Você vem de antes.
Você vem de outro lugar.
Você é eterno, é constante.
Você é terra, água, fogo e ar.
Você é tudo, mundo mudo, ilusão.
Você é infinito, você é turbilhão.
Você é tinhoso,
Você é sagaz.
Você é manhoso,
Você é fugaz.
E foge entre os dedos
Escorre das mãos.
És força! És razão de tudo.
És cura, e és solução.
És o tempo, que nos dá a vida.
És o tempo, que anda comigo.
Meu pai, irmão, algoz, amigo.
Tu és o Tempo, nosso patrão.
*Beá Moreira é Cientista Social, e comenta sobre o cotidiano e suas nuances, de forma descontraída e despretensiosa, buscando fazer do leitor de qualquer idade, um companheiro de bate papo.