GERAÇÃO DO EU TENHO MOSTRA SUAS FERIDAS

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O ser humano paga por seus erros, recebe dividendos por seus acertos, muda constantemente por seus atos, diretrizes e manias. Em todas estas etapas ficam seqüelas, algumas difíceis de reparar, outras impossíveis de melhorar. Ao longo dos tempos os modos vão mudando e a Sociedade Civil Organizada se adéqua de tempos em tempos.

Após o fim da Escravatura, véspera do nascimento da República, no final do século 19, entrando no século 20 o ideal era “ser criativo”. O mundo queria novidades, progressos e modernidades e os criativos nos negócios, no comércio, indústria, prestação de serviço e causas sociais tornavam-se a bola da vez, a turma do sucesso do momento.

Aproximadamente do final da Segunda Guerra Mundial até o início deste século o que imperava era a geração do “Eu Sou”, onde aquele que estudava, que reunia títulos e trabalhos escolares dos mais simples aos mais importantes era bem visto e bem quisto pela Sociedade, angariava os melhores empregos, obtinha sucesso e conquistava um futuro melhor. Nesse período quem tinha mais conhecimento, mais diplomas, que tivesse estudado mais, sobressaia perante os outros, seja no seu grupo, seja entre a comunidade ou a sociedade como um todo.

Nesse meio tempo, surgem alguns remanescentes “geneticamente” modificados do período “Ser Criativo” promovem revoluções no mercado e na vida das pessoas. Como não haviam estudado, mas conseguiram vitórias, a idéia do “Eu Sou” começa a cair por terra e estudar para ser alguém deixa de ser prioridade e ganhar dinheiro a qualquer custo torna-se a mais nova obrigação. Com a criação do Real e a vitória do PT nas urnas brasileiras e conseqüentemente com algumas mudanças econômicas, a classe média foi revigorada e alçou novos vôos. A criação do Bolsa Família foi primordial para alavancar e revigorar a classe média brasileira, que melhorou a sua renda e estrutura financeira familiar.

A partir daí, aliado a uma forte tendência consumista – solução encontrada para abocanhar esse aumento monetário – começa a surgir uma classe eminentemente gastadora, onde o comprar vira receita e ostentar a única forma de interação. Nasce a turma do “Eu Tenho”. As regras são alteradas. Quando o seu avô havia construído um sistema para tirar água do poço e o seu pai havia conseguido montar uma fábrica devido aos longos estudos, a sua única conversa com amigos restringe-se a dizer que comprou o jeans da moda, o último modelo de celular, o carro do ano e as grifes mais conhecidas e caras do mercado.

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Com isso nasce uma nova tendência. Trabalhar é necessário, mas o estudo ficou apenas para o básico. Viver intensamente é preciso, ostentando-se sempre as melhores roupas, as grifes mais caras, os luxos mais imprevisíveis. Festas, baladas, compromissos sociais, amenidades, futilidades e o consumo desenfreado fazem parte de um novo dicionário. Mas como tudo na vida, esta mudança de atitude gera problemas e seqüelas, algumas difíceis de conviver.

Se no período do “Ser Criativo” a única seqüela foi a de que vários projetos não vingaram e muitos tiveram prejuízo, ao mesmo tempo foram absorvidos pelo mercado de trabalho, que na época era iniciante, quase virgem e necessitava de muita mão de obra. O período do “Eu Sou” já enfrentou uma seqüela mais grave. O número de formados aumentava vertiginosamente, enquanto que as vagas tinham seu número acomodado e até reduzido matematicamente e como os formados se fixava nos grandes centros, a procura era sempre maior do que a demanda. E o pior ainda estava por vir.

A geração do “Eu Tenho” ia saborear o pior dos venenos, a mais dura das seqüelas. Acostumados a gastar e gastar, suas dívidas foram aumentando, seu poder de compra mantido e por conseguinte, seus gastos não reduziram, gerando juros altos, multas astronômicas e restrições em cima de restrições. As cobranças vieram em ritmo de avalanche e foram necessários parcelamentos. A inadimplência aumentou meteoricamente e numa estrutura financeira quando se deve ou não se quita uma obrigação, o elo seguinte da corrente sofre as conseqüências. Como os integrantes desta geração não dispõem de bens ou de um nível financeiro-educacional mais elevado a reestruturação é mais difícil.

A falta de bens impossibilita uma melhor negociação. Um melhor nível financeiro ajudaria tanto na discussão de valores quanto no resgate da dívida. Se os membros desta geração tivessem melhor nível educacional poderiam migrar para um novo emprego e com isso, finalizar o problema e a falta de um melhor patamar social é importantíssimo no entendimento que a base desta geração é efêmera, vazia e sem qualquer sustentação.

Criados pela televisão e suas publicidades que veneram os bons lugares, as boas roupas, as situações mais confortáveis, o consumo desenfreado, as mulheres bonitas e sensuais dos corpos esculturais, os carros mais caros e os restaurantes mais transados, os membros deste grupo gastam acima do que ganham e vivem numa situação vazia, sem eira nem beira, onde o círculo vicioso do consumir e ostentar levará a falência de toda uma casta, uma geração.

Resta saber aos magos do mercado o que virá após a estagnação deste grupo; o renascimento de um grupo antigo ou um novo grupo???

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