As tendências do mercado do vinho no Brasil em 2022 – continuação

*Stefan Massinger

 

Depois das primeiras três tendências neste ano já correndo, continuarei apresentando mais três, elaborado pela equipe do blog da revista “Exame”.

Bebidas prontas

O vinho chegou à categoria das bebidas prontas para consumo. O Portonic, elaborado com o vinho do Porto e envasado em latinhas de alumínio, é um bom exemplo. O coquetel pronto para beber é a aposta de vinícolas, como a portuguesa Taylor’s, para o mercado europeu durante o verão, e para outros países em que o clima temperado é uma constante ao longo do ano. Depois do sucesso na Europa, as primeiras latinhas do Portonic, da Taylor’s, e do Pink & Color, da Croft, desembarcaram no final de fevereiro no Brasil, custando cerca de 20 reais. O embarque, diz o executivo Fernando Seixas, atrasou porque o conservante usado no lançamento não foi aprovado pela legislação brasileira, obrigando-os a mudar a formulação. “É um produto novo, elaborado com o vinho do Porto e que ajuda a democratizar o mercado”, afirma. E logo acrescenta: “o consumidor jovem quer bebidas mais fáceis de beber e aqui o coquetel já vem pronto.”.

A Taylor’s não é a única a apostar nos drinques em lata. A espanhola Freixenet é outro exemplo, com a linha Mía. Em ambos os casos, a decisão de lançamento foi baseada em dados. Segundo o IWSR, as chamadas bebidas prontas para consumo, ou Ready to Drink (RTD), devem representar 8% do mercado de bebidas alcoólicas até o ano de 2025 – em 2020, elas tinham 4% do mercado. Estima-se uma taxa de crescimento anual na casa dos 15%, enquanto as bebidas alcoólicas em geral devem crescer cerca de 1% ao ano. Ou seja, uma previsão de crescimento muito superior à dos destilados, vinhos e cervejas. Os dez mercados em foco para as RTDs são Austrália, Brasil, Canadá, China, Alemanha, Japão, México, África do Sul, Reino Unido e EUA, que representam mais de 85% de todo o volume desta categoria no mundo. Ainda, as RTDs estão ganhando espaço entre as bebidas premium. Basta observar a embalagem de Portonic, da Taylor’s, para entender este fenômeno.

O vinho em novos espaços e ocasiões

Talvez impensável em um passado recente, o vinho também pode sair da garrafa e ganhar novas maneiras de ser apresentado para o consumidor. O melhor exemplo no Brasil é o projeto da Sommelière Gabriela Monteleone em parceria com o importador Ariel Kogan, batizado de “Tão longe, tão perto”. A proposta da dupla são os vinhos servidos em barricas de chope ou mesmo com várias torneiras no balcão do bar ou do restaurante. E o vinho também pode ser adquirido em garrafas retornáveis de 1 litro, os Growlers, como já é o costume com cervejas artesanais.

O projeto exemplifica a tendência de servir o vinho de maneira descompromissada, sem a pompa e circunstância que rodeia a bebida. Mas não é o único. O vinho em lata, que ganhou diversos lançamentos durante a pandemia, segue na linha de descomplicar o consumo. Nesta categoria, a bebida é pensada para consumo em locais mais despojados, da praia à balada, e abre mão de um dos pré-requisitos para a apreciação, que é a taça. “Impensável no passado, o vinho pode sair da garrafa e ganhar novas maneiras de ser apresentado para o consumidor.” Direto da latinha, é impossível sentir seus aromas. Cabe ao vinho fisgar o consumidor apenas pelo seu sabor e sua imagem, de uma bebida refrescante, leve e, não raro, frisante. Servido gelado, traz também a praticidade de consumo.

Produto local

Indiretamente, a pandemia fez bem ao vinho brasileiro. Passado o susto da chegada do vírus, que coincidiu com o período de colheita e elaboração da safra de 2020, as vinícolas nacionais foram encontrando um consumidor propenso a provar os brancos e tintos elaborados no país. As razões foram as mais diversas. Primeiro, a oferta de rótulos de qualidade nos supermercados, então o principal (e às vezes o único) ponto de venda aberto para os consumidores. Nas gôndolas, além de um vinho de qualidade, o consumidor encontrou um produto com preços competitivos, fator importante no momento de compra.

Anos atrás, talvez a aceitação não fosse tão boa, mas a bebida brasileira ganhou qualidade nas últimas safras. Contou também com a sorte de boas condições climáticas para as safras de 2018, que estava no mercado com a chegada do Corona vírus, e a de 2020. Vinhos redondos, com taninos bem moldados ajudaram o consumidor a vencer o preconceito contra a bebida brasileira. Assim como nos vinhos com baixo teor alcoólico, os pequenos produtores também conseguiram investir em vendas online, ampliando o alcance da bebida.

Resultado: o ano de 2021 trouxe vendas crescentes para os vinhos finos brasileiros, com alta de 23% frente ao já aquecido ano de 2020, de acordo com os dados da Ideal Consulting. Os espumantes brasileiros também se recuperaram da retração do ano anterior, quando a ausência de festas e comemorações levaram à redução do seu consumo, e cresceram 35%. Em comparação, os espumantes importados tiveram um aumento de 17% no mesmo período.

Há outros fatores que colocam o vinho brasileiro nas taças dos consumidores. Um deles é a preocupação crescente, de uma parcela da população, em priorizar o consumo de produtos locais. A pesquisa Top 10 Consumer Trends 2022, da Euromonitor, mostra que 28% dos consumidores buscam comprar produtos e serviços locais, o que também ajuda o vinho brasileiro. Outro é o fator preço: se a desvalorização do real frente ao dólar tornou os brancos e tintos nacionais mais competitivos, isso deve se intensificar em 2022. Os rótulos importados devem ficar ainda mais caros ao longo do ano. “O interesse crescente pelo vinho brasileiro refletiu nas demais atividades ligadas à bebida, incentivando o investimento em Enoturismo.”

O interesse crescente pelo vinho brasileiro, ainda, refletiu nas demais atividades ligadas à bebida. O Enoturismo se transformou não apenas em uma importante ferramenta de marketing, como também ganhou novos adeptos pelo fato de ser uma atividade ao ar livre, lazer tão indicado nestes tempos de pandemia.

 

* Stefan Massinger nasceu na Áustria, sul de Viena, numa região de vinhos. Vive em Caraguatatuba, sendo Master do grupo Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina, responsável para gestão de pessoas e vendas. Também já trabalhou com venda de vinhos e atua também como consultor independente de negócios.

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