Lembranças
Depois de redigir o texto sobre o arregalar dos olhos do Governador Alckmin, tive uma ponta de inveja, que confesso, foi momentânea, pois ao longo da minha carreira tive vários momentos com o “Dotor Gerardinho” de Pinda.
Anota Aí
O ano era 1984 ou 1985. Eu cursava Jornalismo na Unitau e fazia estágio na Gazeta de Taubaté, do famoso Gravatão e do Editor Djalma Castro, que havia entrevistado o Deputado Estadual Rafael Baldacci, onde o mesmo não teria poupado palavras para criticar o então também Deputado Estadual, pelo MDB, Geraldo Alckmin.
Nervoso
Dias depois o MDB faria um comício monstro na Praça da Eletro e Alckmin estaria lá. Djalma Castro me incumbiu de ouvir a réplica do homem de Pinda quanto as declarações de Baldacci, que representava o PDS, partido do governo na época. Chegando lá procurei Geraldinho que ao me identificar desandou a falar. “Então você anota tudo direitinho que eu vou responder”. Foi a primeira e a única vez que vi o Geraldinho nervoso, alterado, perturbado. Ao final pedi para ele falar pausadamente que tudo seria escrito, o que foi feito e publicado.
Pedido
Nunca fiz um pedido sequer a qualquer dos grandes políticos, seja de âmbito estadual ou federal, mas durante o meu período na Câmara Municipal, enfrentava problemas com o Cerimonial e a Casa Civil do Governo do Estado quando da presença do Governador na cidade, pois nunca, de maneira alguma o Presidente da Câmara falava durante a cerimônia, apenas fazia figuração no palanque.
Briga
A situação não chegava as vias de fato, mas resultava em discussões e bate bocas homéricos. Ao final de mais um destes eventos consigo acompanhar o Governador até a van que o levaria até o helicóptero e no caminho explico a situação e solicito a sua ajuda e intervenção pelo simples fato de que o Presidente do Legislativo sempre o defendia. Geraldinho não teve talvez e apenas perguntou o nome do Vereador Presidente e disse que da próxima vez que falasse com ele para resolver a questão.
Recordar
O encontro seguinte se deu em São Sebastião, quando eu trabalhava na Comunicação daquela Prefeitura e comentei com ele sobre o Baldacci e consequentemente sobre o período que estamos juntos, cada um na sua cachaça, eu no jornalismo e ele na política. Nessa ocasião ele demonstrou alegria por recordar e lembrou que Baldacci ainda está vivo e fazendo parte de entidade representativa dos Dentistas paulistas.
Clinicar
Ainda em São Sebastião perguntei o que o Governador faria quando não estivesse mais na política. Geraldinho disse que pensa em dar aulas, pois tem mestrado em Saúde Pública e retornar a Medicina, como Anestesista.
Santista
Mas as minhas memórias de Jornalista não se limitam ao Governador Alckmin, mas também ao Santista Grande Chefe Bandeirante Mário Covas. Foram momentos hilários e até tensos, mas todos com direito de entrar para a história.
Japoninho
Você sabia que o ex-Governador Covas tinha o apelido de “Japoninho”??? Apelido esse dado por sua tia que pintava tanto ele como a um primo de japonês todo Carnaval, além de colocar nele uma faixa na testa e vesti-lo com um quimono. Covas confidenciou isso durante uma entrevista.
Bravo
Covas ficou bravo quando do imbróglio entre Antonio Carlos e o Diretório em 1996. Na ocasião, durante uma inauguração em Caraguá, o Diretório fez uma reclamação e eu tratei de gravar o acontecimento. O ex-Deputado Paulo Julião viu e tentou tomar o gravador. Houve uma discussão e o Governador foi embora muito bravo.
PAT
Quando da inauguração do Posto de Assistência do Trabalho um assessor não deixava que a imprensa encostasse no Governador e ficava dando de ombros para empurrar os repórteres para longe. Em determinado momento, fiz que iria para perto do Governador e enganei o assessor, que passou direto, me deixando de braço dado com Covas, que deu declarações aos coleguinhas e ainda me deu a capa do Imprensa Livre do dia seguinte.
Protocolo
Aliás sobre essa visita me vem uma dúvida: Na ocasião o Governador ganhou de Vernizzi, artista plástico de renome na cidade um peixe de argila, medindo cerca de 1 metro de comprimento por uns 55 centímetros de altura. A dúvida é a seguinte: O presente foi dado para a pessoa Mário Covas ou para o Governador e no caso deste, fica no acervo do Palácio dos Bandeirantes ou pode ser levado para a residência particular quando da sua saída do cargo???
Casa Branca
Falo em dúvida porque nos Estados Unidos todo e qualquer presente dado ao Presidente daquele país e cadastrado no estoque do Cerimonial da Casa Branca e poderá ser usado tanto pelo atual como pelos próximos Presidentes, não podendo ser levado para a residência particular quando da saída do cargo.
A Capa
Sobre a capa, perguntei se o Governo do Estado iria instalar uma Unidade, na época, da Febem na cidade. Covas respondeu positivo e em seguida perguntei se ele iria ouvir a população sobre a instalação. O Governador foi categórico: “Eu não, ouça você que é da imprensa. O Governo decide fazer, faz e ponto final!!!”. A Unidade, agora denominada Fundação Casa só foi instalada por volta de 2010 na cidade.
Adutora
Quando da inauguração de uma Adutora da Sabesp, no bairro do Ipiranga, desci com o Governador do palanque e caminhei com ele de braço dado até a van, quando aproveitei para perguntar sobre a agressão sofrida dias antes em Campinas. Isso tudo sob os olhares gulosos e invejosos de alguns políticos e caciques locais.
Respeito
Ao perguntar sobre o que ocorreu em Campinas, Mário Covas abriu seu coração: “Não gostam de mim como Governador tudo bem, é direito deles, mas me respeitem como pessoa, como avô, pela idade que tenho”, disse. Naquela ocasião uma facção política ligada ao ex e finado Governador Orestes Quércia jogou pedras e ovos no carro do Governador quando da sua visita aquela cidade.
Outros
Tive o prazer de encontrar com Covas em outros momentos e em todos, ele mostrou um trato excepcional e uma maestria para tratar a imprensa que dava gosto entrevistá-lo, ficar nervoso com ele, deixá-lo nervoso, deixar os coleguinhas preocupados com o suposto nervosismo dele. Na verdade era tudo jogo de cena, onde Covas sabia como ninguém cavar o seu espaço na imprensa.
Prova
Esse depoimento, traduzido na forma de notas nesta coluna é para ratificar que político quando se encontra com jornalista ou marca evento com a imprensa, quer espaço e deve estar sempre preparado para ser encurralado ou confrontado por questionamentos. Caso queira um social, deve marcar fora do ambiente e do expediente de trabalho, especificando que não é trabalho e que lá serão discutidos assuntos como futebol, mulher, cerveja e receitas culinárias.