O ritual sagrado em Varanasi

* Maíza Gaspar

 

Na índia, a filosofia e a “religião” é muito diferente da visão ocidentalizada, porém muitos deuses e deusas são venerados e SHIVA é um elemento da trindade hinduísta, representado de muitas formas; A PUJA é uma oferenda, realizados pelos hindus como uma forma de gratidão às divindades, para receber as bênçãos.

São usados flores, incensos, frutas e alimentos e é praticado diariamente pelos hinduístas como demonstração de fé e de que serão recompensados em felicidade, realização espiritual, paz e prosperidade.  Tínhamos previsto participar do ritual ao final do dia e nos dirigimos para as margens do Ganges num TUK TUK (O tuk tuk é meio de transporte mais popular na Índia) e não tem cinto de segurança, nem porta.

Eu havia sido encarregada de levar um presente para um hinduísta que vivia em Varanasi, e tinha uma loja de chá e especiarias (vishnu tea emporium), de modo que enviei uma mensagem para que viesse até o Hotel buscar a encomenda enviada por uma amiga brasileira, a Clarissa Mansour que havia feito intercambio cultural na Índia e sabendo de minha viagem com itinerário por Varanasi, pediu-me para levar esse presente de gratidão.

Então conheci VISHNU SAHU, também conhecido como guia turístico e proficiente na língua inglesa, porém eu nada entendia, nem Hindu ou Inglês – e em gratidão ofereceu-me fazer um city tour de tuk tuk pelas ruas estreitas e caóticas, assim como se prontificou a mostrar-me vários lugares e templos não acessíveis aos turistas mais comuns de um modo geral.  Acabei seguindo atrás de grupo que levava um corpo enrolado em panos dourados, numa maca de bambu improvisada, no meio da multidão e perguntei o que era aquilo, e por isso acabei participando de um extraordinário funeral e um ritual de cremação que acontece a céu aberto, em frente ao rio.  Fiquei em choque e perplexa pois meu medo era assustador, porém a atmosfera era de paz…e o fogo ateado nos montes de madeiras preparada pela família exalava cheiro de incenso… chamada de pira funerária.  As cinzas são lançadas no rio.  Muitas das minhas crenças e arrogância morreram neste dia.

Sai dali com um sentimento de empatia por esse povo diferente, porém confesso que na outra esquina fervilhava de vida. Vi novamente o menino do dia anterior e pedi ajuda de VISHNU para entender o que eu havia feito de errado. Assim ele me disse que este menino e também algumas mulheres que vivem às margens não tem casta, e lutam para ter dignidade, então eles vendem objetos, mas não pedem esmolas e o fato de eu ter “oferecido” dinheiro e não querer comprar era uma forma de ferir a alma d´ele. Então disse que compraria todos os colares de pequeninas contas de madeira para me redimir. Pedi perdão pela minha ignorância e agradeci.   Muitas mulheres vieram vender-me flores, incensos e o Aarti para a ritual do por do sol.

Estava na hora de regressar ao Hotel, porém as mulheres estavam todas fazendo compras de sedas e presentes e pedi que me levasse até as lojas onde estavam, me deleitei com tudo de maravilhoso em seda que estava à minha espera, inclusive uma “bronca” da nossa guia turística Thais Gushn que estava nervosa com meu sumiço, mas percebeu o quanto essa experiência era necessária na minha vida.   Ao entardecer participamos da nossa despedida de Varanasi com o ritual do fogo.

Em vários Ghats as pessoas veneram esse momento e muitos turistas do mundo todo se junta nas escadarias para apreciar diariamente os Bramanes e os sacerdotes executarem o ritual com candelabros de fogo, mantras, danças e alegria. Foi a coisa mais linda e a lembrança mais sublime que levo de Varanasi no meu coração. Depositei no rio todas minhas dores, e tudo que precisava deixar morrer em minha vida para eu pudesse resuscitar a paz e a alegria, que havia se exaurido após meu divorcio. As velas flutuantes viajavam lentamente pelas margens imensas e a beleza começou a aparecer diante de meus olhos.   Dali seguimos todos muitos felizes para conhecer o templo de Shiva e de Hanamum.

No dia seguinte seguimos para Dharamshala.

 

* Maíza Rodrigues é Advogada e Procuradora na Prefeitura de Caraguatatuba, especializada nas questões ambientais e da Criança, além de amante dos Animais. Posteriormente transformou-se em conhecedora do Mundo Holístico, Místico e Terapêutico através dos seus vários segmentos. Com a sua coluna quer mostrar o outro lado das viagens de Turismo.

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