* Edu Souza
Muitas vezes ao longo dos últimos dez anos, me perguntaram – “Nossa você gosta de Sorocaba né?” – e talvez a resposta mais correta seria que, primeiro, Sorocaba gosta de mim.
Minha relação com essa cidade especial começa junto com minha amizade com o guitarrista e cantor Marcos Boi, um veterano da cena bluseira de Sorocaba e interior de São Paulo.
Nos conhecemos em Ubatuba, no palco do Blues On The Rocks, e na ocasião tentei passar no show do Marcos antes do meu mas não consegui, ele apareceu logo depois de tocar e já decidido falou – “Posso dar uma canja na sua guitarra?”.
A partir dali, nasceu uma amizade sólida e grande parceria musical.
Tocamos juntos muitas vezes e viajamos outras tantas, sempre com muita prosa filosófica entre um som e outro. Nessas ocasiões, Marcos Boi sempre falava – “Preciso te levar pra Sorocaba, seu som vai funcionar bastante lá”.
E assim, começou essa relação de quase 10 anos de amizade e carinho por uma cidade do interior paulista.
Desde a primeira vez que visitei a cidade para tocar e saí depois para curtir a noite até amanhecer, fiquei encantado com a efervescência cultural do lugar.
Passei ótimos momentos em bares e sarjetas, com músicos instrumentistas, cantores e cantoras, grandes compositores, atores, escritores, poetas, artesões, sociólogos e loucos.
Aquele tipo de loucos encantadores e tão vivos, que fazem outras realidades parecem já mortas ainda em vida.
Era isso que eu queria, esse combustível!
Conheci gente tão talentosa e interessante, que eu quis me envolver e trabalhar com elas.
Ao longo do tempo fui me organizando, dentro das possibilidades, para agregar ao meu trabalho outros profissionais que tive a oportunidade de conhecer através de Sorocaba.
No meu último lançamento, o álbum “Grateful”, conto com a participação do já citado Marcos Boi na guitarra e violino, João Leopoldo no teclado e Italo Riber, que além de um exímio baterista é formado em produção fonográfica e cuidou dessa parte ao longo das gravações e mixagem do disco.
Acredito que para trabalhar com arte com verdade e paixão, uma das primeiras coisas importantes é você ser fã e admirador das pessoas que chama para somarem criativamente no projeto.
Nenhuma parte do processo de produção de um disco é puramente funcional e desprovida do senso estético e criativo de quem a executa.
Não é só cumprir uma função, onde sua personalidade e opinião não tem nenhuma atuação no resultado final, caso contrário, não seria este um trabalho colaborativo.
Mesmo sendo hoje um artista solo, necessito dividir as dúvidas e decisões para chegar ao resultado que desejo e muitas vezes não tem um caminho pronto na minha cabeça.
Por isso acho tão fundamental que eu confie e admire as pessoas envolvidas por escolhas e bom senso.
Sorocaba me acolheu muito bem, assim como todo o interior paulista que atravesso me apresentando, e hoje, organizo minhas próprias viagens trilhando um caminho próprio que foi aberto com muita generosidade pelo meu amigo Marcos Boi.
Tenho profunda gratidão por todas minhas vivências lá, todos que conheci e que, me transformaram um pouco depois de cada encontro.
Como o que sei fazer é música, minha forma de retribuir humildemente todo o entusiasmo e inspiração que me trouxeram, é convidar essa gente querida para estar comigo, caminhando junto nessa estrada do som.
Também gosto de saber e pensar que lá atrás meu avô paterno, Edson Aguiar, foi um dos engenheiros civis que fizeram parte da construção da Estrada de Ferro Sorocaba.
Essa coisa dos trilhos e da história do blues…
Mas isso já é outra viagem, deixa pra depois.
Te vejo quinta feira, um beijo.
* Edu Souza é cantor, compositor e músico profissional desde 2003, lançou 3 álbuns autorais, já atuou como professor e acompanha diversos artistas do cenário blues.