Trilha do Som

* Edu Souza

 

Tem uma coisa que quase não se vê mais por aí, salvo raras exceções nos grandes centros urbanos, que são as lojas de discos em LP, CD ou DVD.

As mídias de reprodução se renovam, se transformam, se adaptam e volta e meia retornam aos holofotes da indústria, como podemos observar ao longo da história, inclusive até mesmo com as fitas K7.

Os artistas, são os primeiros a deixarem de existir no curso natural da vida.

E o que fica, é a música!

Nossa musa, detentora dessa força motora e inspiração que motiva e conduz, permanece.

Acho essa, uma das belezas das artes.

100 anos depois da morte do último Beatle, alguém estará ouvindo as canções dos garotos de Liverpool em alguma mídia ou plataforma.

E porque eu considero as lojas parte fundamental disso tudo?

As lojas são espaços que vão além de apenas vender a arte embalada em produto e produto embalado em plástico e papel.

São um ambiente dos amantes do som, que favorece além de conhecer as novidades do mercado antigo e atual (o que hoje se faz rapidamente com uma busca no Google), e que realizam diversas conexões reais entre seus frequentadores.

Se você já teve a oportunidade de ser frequentador de uma loja, sabe do que estou falando.

Bandas eram formadas, fanzines organizados, informação e divulgação de shows e eventos, e o mais interessante de tudo era a possibilidade de conhecer uma coisa nova pela escolha de cliente aleatório.

Era muito comum poder ouvir alguns discos ou faixas em determinadas lojas e às vezes você estava lá fazendo seu garimpo dos estilos que gostava e alguém pedia pra ouvir algo que você não conhecia e chamava a atenção, te fazendo caminhar ao balcão pra perguntar o que era.

Isso às vezes era o que te abria para um estilo novo ou artista, aquele impacto inicial com o som potente de uma loja.

E assim foi comigo por muitos anos na Trilha do Som, loja que ainda permanece em Caraguatatuba, do meu querido amigo e segundo pai, Luís Trilha.

Fui frequentador durante toda adolescência até início da vida adulta, por pelo menos uns 12 anos.

Além dos estudos musicais, me considero formado principalmente pelas sonoridades a que fui apresentado dentro da Trilha do Som, das inúmeras conversas, opiniões e informações que ouvi e absorvi.

Lá me aprofundei em coisas que eu já conhecia, como DVD’s dos guitarristas Stevie Ray Vaughan e Jimi Hendrix que eu ainda não tinha sido apresentado e uma extensa lista de artistas dos quais vou tentar lembrar alguns.

The Allman Brothers Band; Lynyrd Skynyrd; Rory Gallagher; Roy Buchanan; Eumir Deodato; The Hepcats; Hound Dog Taylor; Danny Gatton; André Christovam; Blues Etílicos; Melvin Taylor; Eric Clapton; Muddy Waters; Elmore James; Buddy Guy; Edu Gomes; Emerson, Lake & Palmer; Joe Bonamassa; Cream; Ten Years After; Peter Green; John Mayall; Deep Purple; The Yardbirds; Jeff Beck; Jefferson Airplane; Uriah Heep; Free.

Já dá pra ter uma ideia né?

É isso, uma loja de discos influenciando uma vida toda.

As mídias e o formato de consumo se adaptam, mas e os espaços de convivência?

Sinto falta.

Nada contra a tecnologia e modernidade, mas receber apenas um link é certamente menos impactante do que conhecer o som sendo colocado pra tocar por alguém em um som adequado.

É isso, sem saudosismo, só mudou.

Te vejo quinta feira, um beijo.

 

 

* Edu Souza é cantor, compositor e músico profissional desde 2003, lançou 3 álbuns autorais, já atuou como professor e acompanha diversos artistas do cenário blues.

 

Nota do Editor: Hoje excepcionalmente publicaremos a coluna de Edu Souza na quarta-feira, em virtude do Aniversário de 9 anos do Blog Contra & Verso que acontece amanhã, Quinta-Feira, 22 de Fevereiro.

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