Vinho e a influência de reis e imperadores II

*Stefan Massinger

 

Como escrito na edição passada, vários reis, imperadores, duques e nobres em geral, influenciaram a cultura do vinho e deixaram sua marca na história desta bebida fantástica. Vamos abrir nossa coluna então no ano 1308.  Neste ano o papa Clemente V, influenciado pelo rei da França, levou a sede do papado para Avignon. Os soberanos católicos ficaram lá por 70 anos e os vinhedos em torno de sua nova sede, chamada Châteauneuf-du-Pape, deram origem a um vinho famoso até os nossos dias. Clemente ainda seria homenageado com um vinhedo em Bordeaux, onde hoje está o Château Pape Clement.

Mas ‘peraí …– só os europeus estavam influenciando a história do vinho. No geral sim, mas claro também tiveram outras figuras históricas, que podem ser mencionadas. Vamos olhar para o Brasil e assim então apresentar Brás Cubas, em março de 1532, um fidalgo chamado Brás Cubas, nascido na cidade do Porto, torna-se o primeiro vinicultor do Brasil. “Fidalgo” – quer dizer filho de algo, pode ser um nobre, uma família que tem bastante bens ou alguém, mas de qualquer forma alguém que está bem visto na sociedade! Após fundar a Vila de Santos, Brás Cubas manda cultivar cepas trazidas de Portugal nas encostas da Serra do Mar, onde hoje se localiza a cidade de Cubatão. O empreendimento não deu muito certo, então ele subiu a serra e os primeiros vinhedos que merecem menção foram cultivados próximos a Taubaté. – Quem diria, né?!

Voltando para Europa, pulando uns 200 anos na linha do tempo temos que mencionar “O príncipe das vinhas”, Nicolas-Alexandre, Marquês de Segur. Ele foi o mais poderoso regente de Bordeaux e chegou a possuir algumas das mais famosas propriedades da época como Lafite, Latour, Mouton, Calon-Segur, entre outras. Seus vinhos eram admirados tanto na corte inglesa quanto na francesa, a ponto de ser alcunhado como “Príncipe das Vinhas” pelo rei Luís XV. Várias vinícolas estão produzindo até hoje vinhos renomados com altíssima qualidade. Muitos deles nas mãos da dinastia Rothschild, nome bem conhecido no mundo do vinho e no mundo bancario.  Da França para Portugal, quem conversa sobre vinho, tem que conversar sobre um nobre importante, que amava vinho. – O Marquês de Pombal. Portugal atravessava um momento difícil em meados do século XVIII. Em 1755, um terremoto destruiu Lisboa por completo. Porém, graças ao Marquês de Pombal o país se reergueu. Para ajudar a financiar a reconstrução da capital, ele criou algumas companhias de comércio entre elas A Companhia do Vinhos do Douro, regulando o mercado e estabelecendo o que os portugueses dizem ser a primeira região demarcada do mundo delimitadas pelos famosos marcos pombalinos. Até hoje vinícolas e terras, que forma sob domínio do Marquês, estão produzindo e exportando vinhos até hoje. Sobre a influência do Marquês e o crescimento do vinho do Porto, vou escrever em uma outra edição!

Voltaremos para nosso Brasil, apresentando o ato, que teve uma influência do crescimento da vinicultura brasileira – A produção de vinho no Brasil cresceu praticamente desde que Brás Cubas e diversas ondas de imigração de europeus, mas em 5 de janeiro de 1785, a rainha Dona Maria I (A Louca) baixou um alvará proibindo toda a atividade manufatureira na colônia. Isso sepultou a jovem indústria de vinhos daqui.

A próxima data marcante em muitos aspectos e assim também na produção do vinho foi a Revolução Francesa de 1789. Ela transformou totalmente a França, causando transtornos políticos que afetaram também o mundo do vinho. Entre as principais mudanças está a desapropriação de enormes propriedades da Igreja, incluindo o confisco dos vinhedos pelo Estado especialmente na Borgonha, que seriam vendidos para aristocratas franceses. O Código Napoleônico, com sua nova lei de heranças (que tirava o privilégio dos primogênitos), também deixou marcas na vinicultura da França, fazendo com que as propriedades se subdividissem entre todos os filhos.

Este código e o domínio de Napoleão influenciavam o desenvolvimento da vinicultura no Brasil. Em 1808 com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, fugindo do ataque de Napoleão na Europa, o antigo decreto da proibição de produzir vinho acabou. A família real fez com que o veto à produção de vinho fosse derrubado por Dom João VI e, mais do que isso, inaugurou uma nova era de muitos eventos sociais em que o vinho sempre estava presente. – Uffa, que desfecho positivo para nós apreciadores de vinho, vivendo no Brasil. Não é mesmo?

 

 

* Stefan Massinger nasceu na Áustria, sul de Viena, numa região de vinhos. Vive em Caraguatatuba, sendo embaixador do grupo Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina, através da sua empresa Marevino. Também administra um curso on-line,tem um podcast e faz lives educativas mensais. Atua também como consultor independente de negócios.

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