Acabou a farra – consumo do vinho entrando em ressaca

*Stefan Massinger

Que vinho era a bebida do momento na pandemia todos nós já sabemos. Aquela sensação de “se presentear” com algo diferente, algo sofisticado em tempos do castigo sanitário necessário, ajudou muito o consumo do vinho e importadoras, supermercados revendedores independentes estavam trabalhando sorrindo.

Bom, a pandemia acabou, muitos entraram no ramo dos vinhos, que não automaticamente aumentou a qualidade – nem dos rótulos, nem das pessoas atuando, observando a situação do modo geral. Era mais aquela “chance de atuar em um mercado bombando” do que realmente investir em conhecimento e bons produtos. – Prova dessa minha observação é também o significativo aumento de importações clandestinos e falsificações de grandes marcas e vinhos icónicos.  Estoques cheios, um batalhão de vendedores animados no mercado, rótulos novos, lançamentos, qualquer coisa sendo tinto, branco, rosé ou espumante serve. Eita, tudo pronta para a festa! – visível também em uma rede de têxteis para cama, mesa e banho entrando fortemente na revenda de vinhos para chamar atenção para suas lojas. Rótulos desconhecidos com qualidade mais que básico e preços longe de gerar qualquer lucro. – “só para perturbar e pegar carona na onda do mercado do vinho” … mas sobre isso talvez escrevo numa outra semana.

E então como fica a situação atual, nesse começo do ano 2023? Conforma a empresa especializado em observações do mercado de bebidas, a Idealconsult, com todos os dados tabulados e conferidos, podemos afirmar que o mercado de vinhos no Brasil em 2022 ficou em 438,8 milhões de garrafas. Este volume representa uma queda de 10% em relação ao ano anterior, quando chegou a 489,2 milhões de litros, e é formado pelo total de garrafas comercializadas pelas vinícolas brasileiras e as importadas legalmente. Para o resultado de 2022, a comercialização das vinícolas brasileiras registrou uma queda de 12,8% e as importações, uma redução de 6,2% em volume.

Bom, então a farra acabou, ou pelo menos por enquanto. Será que o grande, tão esperado e celebrado “boom de vinhos” no Brasil foi nada mais que um voo de galinha e nada de decolagem de uma águia?

Eu acho, nos temos que ser justo e sempre observar as variáveis, que acompanhem o consumo de vinhos no nosso país. Os impostos altos do produto, os intercâmbios do dólar e euro desfavoráveis, e a incerteza política duma campanha bastante emocional, gerando medo e desanimo, não ajudou no clima de “celebrar momentos felizes”, para que o vinho serviria muito bem. Também a situação econômica de todas faixas socioeconômicas não é fácil, ou vamos ser mais exato – não é previsível e nada certo, que demanda mais cautela com gastos e consumo.

Uai, os apreciadores pararam de tomar vinho? Sim e não. Pararam talvez não. Mas antes tomaram 3-6 garrafas, hoje 1-3 por semana está bom. Compraram vinhos por 40-70 reais e hoje um tinto por 30-35 reais está de bom tamanho. Na minha opinião também temos muitos rótulos e revendedoras, para não escrever “demais” – fruta de um boom e com certeza 2023 vai “limpar o mercado” – os que tem qualidade, preços justos, uma proposta que agrade os clientes vão sobreviver e provavelmente se fortalecer. Os aventureiros, que quiserem garimpar com pouco esforço no mercado do vinho vão desaparecer ou continuar lutando contra a falência. E terá tendencias ou novidades boas para este jovem 2023? Claro, sobre isso vamos escrever nas próximas colunas! Tim-tim, e por favor beba mais vinho! Só não bebe se dirige…

 

* Stefan Massinger nasceu na Áustria, sul de Viena, numa região de vinhos. Vive em Caraguatatuba, sendo embaixador do grupo Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina. Ele atua na consultoria personalizada sobre vinhos para consumidores, empresas e eventos.

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