*Stefan Massinger
Chegamos “quase” no fim da nossa história do vinho em terra brasilis … Como assim, parou no início do século 19? – Claro que não! Vamos seguir a crônica conforme as informações da Associação Brasileira de Enologia. Então no ano de 1813, D. João VI reconhece oficialmente a primazia de Manoel de Macedo Brum da Silveira no plantio de videiras e produção de vinho no Rio Grande. Por volta de 1840, a introdução da variedade americana Isabel, por Thomas Master, na ilha dos Marinheiros, foi sucedida de grande sucesso.
Até hoje este tipo de uva é usada para produzir sucos e uma grande parte dos vinhos suaves de mesa, tão querido pelos brasileiros. Mais que 60% dos vinhos consumidos em território nacional são “suaves”. Sua resistência e rusticidade fizeram que ela se implantasse preferencialmente na região em detrimento das cepas viníferas, mais frágeis. A uva Isabel foi-se disseminando nas áreas de colonização alemã, como São Leopoldo.
A partir de 1875 desponta o grande surto do crescimento da vitivinicultura gaúcha, graças a chegada da colonização italiana, pois os italianos traziam na bagagem além das cepas de uvas europeias da região de Vêneto, o hábito do consumo do vinho como um alimento, e o ainda chamado espírito vitivinícola. As cepas com o passar do tempo começaram a morrer por causa de doenças fúngicas, mas a força italiana e a vontade de manter sua tradição permitiram aos imigrantes que encontrasse uma uva que se adaptasse a região. A variedade de origem americana chamada de Isabel (vitis labrusca) foi encontrada na região do vale do rio dos Sinos, onde os imigrantes levaram para a encosta Superior do Nordeste, sendo que essa uva se adaptou muito bem aquelas condições, e permitiu a continuidade da produção de uvas e vinho.
Apesar da imigração italiana, que estava mais focada em produzir vinhos de uvas europeias, ainda não chegamos na qualidade desejada. Porque os italianos cultivavam o vinho para acompanhar o dia a dia, a ideia ainda não era de cultivar algo com grande desempenho, algo sofisticado, se me permitem esta palavra. Demorou em despertar este aspecto no cultivo dos vinhos em território nacional.
Apenas há algumas décadas a preocupação com a melhoria de qualidade e as melhorias de técnicas agronômicas fizeram com que, novamente, se iniciasse o plantio de variedades viníferas. A partir de 1970, vinícolas multinacionais, como a Moet & Chandon e a Martini & Rossi entre outros estabeleceram-se na Serra Gaúcha trazendo equipamentos de alta tecnologia e técnicas viticulturais modernas. Estimularam, igualmente, a produção de cepas viníferas. Essas medidas tiveram como consequência um grande salto qualitativo no vinho brasileiro que hoje, a despeito das dificuldades de solo e clima, ostenta padrão internacional de qualidade.
* Stefan Massinger nasceu na Áustria, sul de Viena, numa região de vinhos. Vive em Caraguatatuba, sendo embaixador do grupo Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina, através da sua empresa Marevino. Também administra um curso on-line, tem um podcast e faz lives educativas mensais. Atua também como consultor independente de negócios.