Pr’aquela casa de praia
Se levava toda tralha
Que não tinha onde guardar
Um dia uma geladeira
Chegou lá, de tal maneira
Que quase não tinha lugar!
Num cantinho da cozinha
Entre a porta e a mesinha
A gorducha foi morar
Quando o caseiro saiu
A geladeira se abriu
E espiou todo o solar
Viu a mesa, que dormia
Viu o banco, viu a pia
Viu a escada, outro andar
Abriu mais uma frestinha
E com sua luz fraquinha
Iluminou a cozinha
E se pôs a chacoalhar
Acontecia isso sempre
Tinha muita tremedeira
Pois, alérgico à poeira
O motor da geladeira
Vivia a se engasgar
Com tanta chacoalhação
O filtro, o forno, o fogão
Acabaram por acordar
Foi então que a geladeira
Olhou o fogão, de lado
E então reconheceu
Seu antigo namorado!
Há muitos anos atrás
Dez, quinze, talvez bem mais
Os dois móveis se conheceram
O fogão ardia em brasa
Lembrando daquela casa
Onde fora tão feliz
Lembrava da chama ardente
Que acendia, contente
Quando ia trabalhar
E a geladeira, tremente
Olhava furtivamente
Vendo o fogão esquentar
O fogão, se pavoneava
Acendia e apagava
Mostrando seu resplendor
A geladeira, coitada,
Derretida, mas gelada
Se entregou a esse amor
Mas, um dia, no muro ao lado
Foi construído um sobrado
Onde o dono ia morar
A geladeira, novinha
Que enfeitava a cozinha
Foi a primeira a mudar
O fogão, já enferrujado
Ficou na casinha ao lado
Ninguém o queria levar
E então, frio, apagado
O fogão abandonado
Coitado! Pois- se a chorar
Chorou muito de tristeza,
Pediu conselhos à mesa
Não cansava de lembrar
Da geladeira, tão linda
E, depois de tanto, ainda
Queria com ela casar
Mas o tempo foi passando
E a geladeira, gelando
E o fogão a cozinhar
Até que chegou no sobrado
O novo móvel comprado
Um enorme frigobar
A geladeira, calada
Se sentindo rejeitada
Começou a congelar
O dono da geladeira
A chamando de “tranqueira”
Tirou ela do lugar
E a geladeira, assustada,
Sentiu falta da tomada
Não queria ficar separada
Não queria desligar
Um dia, numa limpeza
No meio da madrugada
A geladeira e a mesa
Foram parar na calçada
O caminhão da coleta
Recolheu tudo que tinha
Levou a mesa, papéis
E até a geladeirinha
Foi parar na reciclagem
Até que alguém viu vantagem
Da geladeira comprar
Carregada na carreta
Balançando sem parar
A sortuda geladeira
Foi morar à beira mar
E então, como num sonho
Encontrou o fogão tristonho
Que com ela quis casar
E foi tamanha surpresa
O encontro do casal
Que até a pequena mesa
Disse ter passado mal
O forno de boca aberta
Ficou um pouco enciumado
Pois sabia que o fogão
Tinha um anel de noivado
A geladeira, feliz
A todos se apresentou
O fogão ficou aceso
E toda a casa esquentou
O banquinho, todo alegre
Foi dançar com a cadeira
Giraram, fazendo festa
Em volta da geladeira
E todos comemoraram
Lá no meio da cozinha
E acho que todos gostaram
Do final desta estorinha.
Uma resposta
Até eu ri, lindo e muito criativo
Parabéns….