Mudanças climáticas compliquem a safra 2023

*Stefan Massinger

 

Nosso litoral paulista neste fim do ano até agora está tomando muita chuva. Uns dizem, que é bom para o abastecimento dos reservatórios. Outros temem uma queda no faturamento dos turistas, com razão. Enquanto pelo menos não estamos em baixo d’água, como infelizmente outras regiões brasileiras, queríamos muito, que o sol voltasse e esquenta nossa alma, e nos trará aquela sensação gostosa de verão na praia.

E o vinho? Faz bem quando é seco? Final uns dos melhores rótulos são de regiões de clima árida e quase do deserto. Bom, nem todas uvas aguentem. Claro. Mas já que o clima mundial está em mudança, temos que ver como certas uvas reagem à essa mudança. Apresento aqui um artigo da plataforma francês de vinho “vitisphere.”

Pinot Noir por exemplo pode sobreviver por 150 dias sem água, em comparação com 50 dias para variedades tolerantes a doenças, como Floreal, Vidoc e Voltis. A descoberta foi feita por Sylvain Delzon, especialista em ecofisiologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da França (Inrae). Ele testou 30 variedades de uva quanto à resistência à seca e chegou à conclusão de que a Pinot Noir – junto com Merlot, Cabernet Sauvignon e Silvaner – é a mais robusta. De acordo com os resultados da pesquisa, se houver falta de água, bolhas de ar se formam nos vasos que transportam suco (“cavitação”), o que leva a uma embolia e desidratação dos órgãos. As videiras se protegem contra isso fechando os estômatos em suas folhas para impedir a evaporação. Com a seca contínua, eles perdem suas folhas para proteger o tronco e seus componentes perenes.

Segundo Delzon, as vinhas são tão sensíveis à seca quanto os tomates. Ele estudou o risco de mau funcionamento hidráulico durante as secas em 329 vinhedos ao redor do mundo. “Os vinhedos de Cognac/França, com 85% de Ugni Blanc, ou de Marlborough/Nova Zelandia, com 78% de Sauvignon, têm tudo a temer com as mudanças climáticas”, alerta.

Embora Delzon não tenha visto mortes de videiras puramente devido à seca em Saint-Emilion/França ou Napa/EUA nos últimos 20 anos, ele e seus colegas identificaram até 12% de cavitação nos troncos, afetando o crescimento e o rendimento. Ele pede aos viticultores que incluam características de resistência hidráulica em seus programas de melhoramento genético, além de míldio, oídio e mancha preta: “Você pode definitivamente cruzar variedades de videiras para torná-las mais tolerantes à seca”.

 

* Stefan Massinger nasceu na Áustria, sul de Viena, numa região de vinhos. Vive em Caraguatatuba, sendo Master do grupo Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina, responsável para gestão de pessoas e vendas. Também já trabalhou com venda de vinhos e atua também como consultor independente de negócios.

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