Poderes da música

* Edu Souza

 

Poucas coisas me são tão instigantes e abstratas quanto o som e a manipulação das ondas sonoras, acho uma verdadeira viagem e é sobre essa viagem que eu gostaria de falar um pouco hoje.

Não sei como é, para você leitor, o seu hábito e relação pessoal com a música.

Acho que cada um, à sua maneira, se conecta e se satisfaz da forma que julgar mais conveniente e prazerosa.

Tem gente que coloca música pra tocar todos os dias, mas já corre pra fazer alguma coisa enquanto a música fica ali, como uma trilha sonora da vida real, tecendo um pano de fundo sonoro para os acontecimentos do cotidiano.

Acho ótimo e válido, faço isso direto com determinados sons em alguns dias, conforme as atividades.

Mas há outros jeitos de escutar música que me cativam e me movem um pouco mais.

Ouço muita música no carro enquanto estou dirigindo nas viagens e gosto de ter uma trilha sonora instigante para esses momentos.

Às vezes é tão instigante que eu desligo o som um pouco pra cantar sozinho ou começar a esboçar alguma ideia de composição.

Nas voltas dos shows, gosto de uma coisa mais tranquila e relax porque sinto minha cabeça muito cheia.

Às vezes o silêncio é o melhor e único som que procuro.

Inclusive, tem um filme muito legal chamado “O Som do Silêncio”, onde o expectador é levado a explorar sensações inéditas através da história de um baterista que é atingido por uma surdez repentina. Recomento e está disponível na Netflix.

Mas voltemos ao som.

No quesito viagem sonora, acho que nada tem mais efeito sobre mim do que escutar música em um belo fone de ouvido, percebendo todas as nuances da mixagem e a distribuição dos “espaços” dentro de cada música.

Preferencialmente, gosto de fazer isso sem nenhuma outra atividade, é sentar ou deitar e escutar sem distrações.

Posição confortável, fecha os olhos e embarca na viagem. Nossa, quanta coisa a gente consegue acessar dentro da gente com essa prática.

Vou a lugares, visito pessoas, experimento sensações antigas, sinto outras inexplicáveis e com alguma frequência choro durante esse processo.

Um exemplo disso é que, enquanto escrevo essa coluna estou ouvindo o primeiro álbum do guitarrista Brian Setzer (Stray Cats) com sua big band, “The Brian Setzer Orquestra”.

Ouvi exaustivamente esse disco em 2005, quando voltei a morar em São Paulo para estudar música, e o conheci através da Cdteca que o Conservatório Souza Lima disponibilizava aos alunos. Toda semana eu estava lá para tentar renovar o empréstimo e naquele ambiente de estudos musicais, esse disco era a junção perfeita das coisas que eu já conseguia entender e das coisas que eu desejava saber.

Hoje em dia quando o ouço, me transporto para lá e para aquele ambiente e fase da vida, me lembro do meu quarto e das horas estudando lá dentro ou ouvindo esse disco.

Essa é uma das coisas mais poderosas da música, entrar em sua mente e coração sem bater, nem pedir licença, e quando você percebe e se dá conta, já está transbordando alguma emoção.

Lide com isso.

E acho que, no fim, é essa sensação poderosa de transportar a gente, dentro da gente mesmo, que eu procuro todas as noites quando saio para tocar.

Desejo que primeiro aconteça comigo e humildemente procuro ser instrumento para viabilizar isso nas outras pessoas que estão lá.

É essa a minha busca!

Te vejo quinta feira, um beijo.

 

* Edu Souza é cantor, compositor e músico profissional desde 2003, lançou 3 álbuns autorais, já atuou como professor e acompanha diversos artistas do cenário blues.

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