Por Beá Moreira
Assim que ela terminou de elogiar e agradecer a boneca, o jovem Benedito Moreira, com a propriedade de seus 23 anos de idade, falou, olhando firmemente, bem dentro dos olhos dela: “Luísa, você é meu amor! Te respeito e admiro! Vou fazer de tudo para que você também me ame. No dia que você cansar de brincar de boneca, você vem conversar sobre isso, comigo!”
Ela disse que não entendeu muito, mas, gostou… aquele calor estranho que subia pelo seu corpo todo, acelerando seu coração, já vinha sendo seu companheiro…
E começaram a viver juntos a vida de casados, porém, ela dormia no quarto e ele, na rede, na sala…
Aos poucos, Luísa passou a conversar muito com seu divertido e espirituoso marido, que a encantava, com aqueles olhos verde azulados, tão vivos e brilhantes, e que sempre estavam em busca dos dela.
E foi gostando da companhia… Respondia aos avanços sutis dele com uma risadinha, olhando para o chão, morrendo de vergonha! Mas, ruborizada, dizia que sentia um calorão estranho… que seus joelhos bambeavam, e ria mais!
Ele fazia todos os gostos dela! Ela gostava de tomar banho de mar, mas naquela época, era feio mulher tomar banho de mar… ainda mais mulher casada! Imaginem! Já com 14 anos, ir para a praia tomar banho de mar! Molhava o vestido, ficava colado no corpo, era uma pouca vergonha! Então, não podia, era feio! Mas ela adorava!
Sabendo disso, ele a levava, à noite, lá na Praia da Frente, que era muito escura! Entrava na água com ela, nadavam escondido, toda noite, no verão!
Iam ver a Lua nascer… Assistiam ao sol se pôr, e caçavam vaga-lumes.
Ela contava que viram um disco voador!!! “Um cepo, como de açougue, iluminado, como ardentia! Clareou toda a praia, e foi embora!”
Depois, com o passar dos meses, vovô encontrou outras formas de mimar vovó.
Certa vez, trouxe, numa caixa com um enorme laçarote, um cachorrinho, peludo e esperto, que ele encomendara para um amigo, de Santos! Trouxe gatinho, coelhos brancos! Trazia passarinhos lindos, nas gaiolas, que, depois, ela criava soltos.
E, aos poucos, com muito amor (e paciência), ele a foi conquistando…
Foram 2 anos de conquista, até que um dia ela, entendeu, e enfim, enjoou da boneca!
Tiveram 14 filhos, e ele morreu quando ela tinha apenas 36 anos, e ele, 45!
Ele morreu no mar…
Foi fazer uma entrega na Ilhabela, ele e mais um companheiro, e, na volta, a família que os hospedou, lá na ilha, falou: “Não! Não voltem hoje, que está virando o mar! Vou matar um frango, vocês jantam, dormem aqui, até a Lestada passar!”
Mas o companheiro, que estava com ele, queria vir embora, ” Não posso ficar, porque a fulana está me esperando, eu tenho que ir embora, vamos assim mesmo, vai dar tempo” …
E partiram!
Mas, a Volga soçobrou no meio do canal! Nunca acharam os corpos! Só a capa, de oleado grosso, que vovô usava, com o monograma que vovó bordara, com todo cuidado e apreço, foi dar na barra do rio Santo Antônio. Vovô nadava bem. Seu funcionário, não!
Algum tempo depois, os Ribeiro de Lima (família de muita influência, que frequentava a cidade durante o verão), fizeram uma festança, na vila!
E compraram alguns peixes. Peixes bem grandes!
Havia por lá uma senhora que trabalhava como banqueteira, e reconhecidamente, ótima cozinheira. Ela era muito amiga da vovó, e foi ela quem foi chamada para preparar o banquete de peixes, para a festa.
Durante o preparo, quando ela abriu um dos peixes, mandou chamar minha avó, aos berros!
Foi uma loucura na cidade, porque a cozinheira acabou por encontrar a abotoadura do meu avô dentro do peixe! Com marcas de dentes, do bicho!!!!
Meu irmão está com a abotoadura, até hoje!
Ficou para o meu pai, depois para ele!
Enfim, minha avó disse que na hora que viu a abotoadura do vovô, caiu no chão, estatelada, de susto e emoção!
Só então vovó Luísa deixou de se sentar sob os pés da Pedra da Freira, ao amanhecer, com os olhos perdidos no horizonte, à espera de alguma resposta…
E ela contava, sempre, com os olhos marejados e o olhar perdido, que até então, esses foram os anos mais felizes de sua vida, ao lado do seu grande amor!!!
E foi assim…
E tem outras estórias! Uma mais bonita que a outra…
Outra hora, eu conto mais!