*Por Beá Moreira
Acordei no meio da noite.
Tive a impressão de ouvir vozes!
Pensei que estivesse sonhando!
Será que alguém me chama?
Ouvia risinhos alegres,
Vindos de baixo da cama.
Ainda assim sonolenta,
Fiquei a prestar atenção!
Mas não tive coragem, nem força, de me ajoelhar no chão.
Aos poucos fui despertando,
E mais, e mais alto escutando,
Um murmúrio, um som baixinho.
Estava ali, parecia
O assobiar de um passarinho!
E então fingi que dormia,
Para ver o que aconteceria!
Saíram debaixo da cama,
Um menininho Dourado,
Que trazia pela mão,
Um moço bem apessoado.
Parece que os dois discutiam
Em um tom acalorado
O menininho falava de amor,
O outro ficava calado.
Falavam de alguém que faltava
De alguém que se esperava
Prestei atenção na conversa,
E então pude entender!
Quem eram os dois tão falantes!
Vi o que iria acontecer!
O menininho brilhante
Não era um menino humano!
Na verdade, o alegre menino,
Era o Primeiro do Ano!
Com ele, mais reservado,
Mais sério, menos faceiro,
Estava o primeiro mês!
O respeitável Janeiro!
Junto, a última semana!
E Dezembro, tão cansado!
Foi então que aconteceu
De eu ter acordado.
E ver o que se sucedeu!
Os dois procuravam o Tempo,
Que estava meio atrasado.
Talvez, por causa da chuva,
Estava tardando a chegar!
E já não era sem tempo
No Desse tempo passar!
Adentrava de mansinho,
Assim, a se convidar.
Mas quando nos demos conta,
O Tempo estava adiante!
Sempre bem acompanhado
De seu amigo, o Instante.
O Tempo sorria tranquilo,
Sabendo o que estava por vir!
A chegada do Ano-Novo,
E o Ano Velho a partir.
E eu, assistia a tudo!
Parecia que não me viam!
Mas, eu escutava tudo!
Via tudo o que faziam!
Assim, foi a madrugada,
Sussurros, na noite tardia!
Às vezes, até pensava,
Que já era o raiar do dia.
O menino resplandecente,
Era um anjo, um serafim!
Iluminava meu quarto,
E olhava direto pra mim!
Foi então que se deu conta
De que quem estava ali era eu.
Se escondeu atrás da porta.
Mas eu via seu brilho, no breu!
Escondido lá no fundo, eu pude ver o pezinho.
Ele deixara de fora, a ponta do sapatinho!
E o Ano-Novo, quietinho,
Ficou ali esperando,
A ordem do tal do Tempo,
Que já estava voltando.
E foi assim, noite adentro,
Uma confabulação!
Todos eles tinham pressa
Mas ninguém tinha razão!
E eu ali, esperando,
Acabar a confusão!
O Ano-Novo dormiu.
Com o mês de Janeiro, no chão!
O Tempo então, saiu também!
Foi correr mundo, foi além!
Ainda sobrava tempo,
Para o Tempo poder passar!
De Era preciso dar tempo,
Pro Ano-Novo chegar!
E a noite foi passando,
E eu,
Acordada ou sonhando?
Deitada na minha cama,
Vendo tudo acontecer!
Tentando entender a trama,
De dentro do meu pijama,
Mesmo assim sem compreender!
E quando raiou o dia,
A casa estava vazia!
Ninguém estava mais lá!
Não sei para onde foram,
Mas sei que irão voltar!
Outra vez, dar tempo ao Tempo,
Que o tempo não tarda a passar.
E o menino, Primeiro do Ano,
Na hora certa chegará!
Saudável, cheio de vida,
Cheio do que virá!
*Beá Moreira é Cientista Social, e comenta sobre o cotidiano, de forma descontraída e despretensiosa, fazendo do leitor de qualquer idade, um companheiro de bate-papo.