Você só toca ou trabalha também?

* Edu Souza

 

Se você é músico, tenho certeza que já ouviu algumas vezes esse tipo de pergunta ou alguma variante dela.

Não cabe aqui me aprofundar agora nos porquês desse pensamento generalizado, mas sim apresentar os motivos e fundamentos que fazem do músico, um profissional autônomo.

Por isso, é fundamental que de início se tenha consciência de classe.

Posto isso que somos profissionais autônomos, sem vínculo empregatício e sem necessidade de formação na área de atuação, vamos falar do que realmente é o trabalho do músico profissional.

Muito além da parte que você expectador, assiste e aprecia em apresentações musicais, existe toda uma cadeia de passos e camadas de esforço, para chegar a um resultado final apresentável e precificado.

Vou falar apenas da minha rotina porque é dela que tenho conhecimento de causa e não necessariamente se alinha com a de outros músicos.

Faz parte do início de cada semana gastar algumas boas horas atrás do WhatsApp, seja por computador ou celular, chamando os contratantes e oferecendo possíveis datas para venda.

Depois de uma data vendida se inicia o processo de produção da mesma, alinhando todas as informações importantes entre contratado e contratante e, no meu caso, também entre os músicos envolvidos que serão contratados por mim para executar o show.

É importante alinhar e passar as expectativas e necessidades do contratante para todos os envolvidos na execução do trabalho para evitar possíveis problemas futuros e frustrações.

O valor negociado, estrutura de som, logística e alimentação são assuntos fundamentais para se tratar e alinhar.

Principalmente o músico viajante, que está sempre na estrada, precisa saber onde vai comer e onde vai dormir, se vai ser num restaurante, num hotel ou se irá receber um valor de diária sobre seus custos e desenrolar por conta própria, determinando o que é melhor para si.

Em eventos pequenos ou particulares é mais comum não ter equipe técnica e estrutura de som, e nesse caso geralmente é o próprio músico que carrega, monta, desmonta e carrega novamente o equipamento.

Eu estou habituado a atender clientes em diversas cidades e nas viagens sou eu que também dirijo e faço o planejamento do tempo e custos do transporte.

Me recordo de uma vez que fui me apresentar em Itu com meu amigo e parceiro Marcos Boi, saí cedo de Caraguatatuba mas a serra da rodovia dos Tamoios estava fechada devido às fortes chuvas e fui obrigado a subir para São Paulo via rodovia dos Imigrantes/Cubatão, totalizando 7 horas de viagem antes do show.

Isso é o trabalho.

Depois de viajar horas para se apresentar, o momento de fazer música é de diversão e relaxamento.

E é essa ponta de iceberg que você expectador, assiste e vibra junto durante o show sem muitas vezes se dar conta de tudo que foi feito e de todo o esforço que foi despendido para que nesse momento tudo esteja em perfeitas condições, materiais, físicas e emocionais.

Manutenção dos instrumentos, amplificadores e equipamentos de som, mecânica e documentos do carro em dia, horas de sono repostas no caso de cantores, alongamentos e cuidados físicos no caso de instrumentistas, e claro, a música precisa estar pronta e resolvida antes de tudo isso.

Não adianta ir pro palco com dúvidas e inseguranças, nada disso irá te ajudar, muito pelo contrário, só vai te comprometer.

Então hoje em dia quando me perguntam se eu só toco ou trabalho também, respondo que, como profissional autônomo e gestor da própria carreira eu trabalho pra caramba até chegar o momento de tocar.

Momento esse, onde faço o que amo fazer.

Com 100% de presença.

Te vejo quinta feira, um beijo.

 

* Edu Souza é cantor, compositor e músico profissional desde 2003, lançou 3 álbuns autorais, já atuou como professor e acompanha diversos artistas do cenário blues.

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