*Por Bea Moreira
Numa caixa de ferramentas,
Moravam, meio apertados,
Muitas chaves, alicates,
Martelos, e até machados!
Um dia, a chave de fenda
Olhou para o parafuso,
Sentiu coisas em seu peito!
Um sentimento confuso!
O parafuso, percebendo,
Olhou a chave de perto.
Sentiu uma coisa estranha,
Sentiu o seu peito aberto!
A chave de fenda, feliz,
Cantava, durante o serviço,
E o parafuso, enrolado,
Se torcia, por causa disso!
A porca, muito ciumenta
Reclamou para o alicate
“O senhor viu? Quem é que aguenta?
Esses dois, que disparate!”
O alicate, tranquilo
Que já tinha visto aquilo
Respondeu, sem se abalar.
“A chave e o parafuso, ainda vão namorar!”
E o tempo foi passando,
E a chave de fenda apertando,
E o parafuso a rodar!
Mas um dia, um equipamento,
Veio causar tormento!
Numa caixa, bonita e simétrica
Chegou uma chave elétrica!
E a chave de fenda, coitada,
Esquecida, abandonada,
Jogada no fundo da caixa
Pela à pilha foi trocada!
A porca, muito invejosa,
Suspirava, toda prosa,
Pela nova ferramenta.
O parafuso, assustado,
Sentindo seu peito apertado,
Arrumou lá seu jeitinho
De chegar, bem mais pertinho,
Da chave, ali, do seu lado!
A chave, então afastada,
Estava muito magoada,
Não queria ser trocada
Pela chave de pôr na tomada!
O parafuso, tristonho,
Também louco de paixão,
Pensou, pensou, e pensou,
E tomou a decisão:
“Chave, fuja comigo!
Pois eu tenho um bom amigo
Que irá nos ajudar!”
A chave, muito assustada,
Não podia pensar em nada,
Resolveu acompanhar.
Rolaram pela bancada,
E, em plena madrugada,
Fugiram da oficina.
Na verdade, a chave de fenda
Queria, desde menina,
Conhecer mais a fazenda.
Rolaram pelo chão duro,
Pularam, por cima do muro,
E chegaram ao portão!
Aos poucos foram saindo,
E com um sorriso se abrindo,
Chegaram num lugar lindo!
Uma casa e um galpão!
Era uma oficina bonita,
E você nem acredita!
Não tinha luz, ali, não!
Então a chave de fenda
Feliz, depois da contenda
Sorriu, mais aliviada.
O parafuso, orgulhoso
Contente com a empreitada,
Resolveu se declarar!
Para sua alegria
A chave, também, quem diria!
Disse sim, sem nem piscar!
E então, ele e a chave
Assim, sem nenhum entrave,
Resolveram se casar.
O amigo do parafuso,
Ficou um pouco confuso,
Quando viu o casal entrar.
Era um forcado brilhante,
Cheio de dentes, elegante!
Que vivia a rastelar.
Pela porta da oficina,
Felizes, e rindo à toa,
Parafuso e chave de fenda
Formavam um lindo par!
O dono da oficina
Que trabalhava por perto,
Olhando pras ferramentas,
Nem reparou no casal.
Juntou tudo o que tinha,
Parafuso, chave, pazinha,
Guardou tudo, num quartinho.
E o casal, relaxado,
Pôde viver, lado a lado,
Prá sempre, no seu cantinho!
*Beá Moreira é Cientista Social, e escreve um pouco de tudo, convidando o leitor, de todas as idades, para um bate-papo sobre a vida, sobre as coisas, sobre gente, e, sobretudo, sobre nós!