A música não mente

* Edu Souza

 

A música não mente.

Essa é uma frase que comecei a usar em diversos momentos da minha vida onde presto atenção ao que a música me diz e me mostra, abrindo assim novas direções e caminhos, que muitas vezes sem observá-la, ainda não tinham surgido como uma opção viável para mim.

Nada de papo esotérico, nem místico.

Apenas ouvidos bem atentos e mente aberta, para expandir a percepção e enxergar o que geralmente não se vê apenas com os olhos.

Isso serve para mim e não posso garantir que irá servir a mais alguém da mesma maneira, mesmo assim é interessante e compartilho com os amigos.

Minha relação com a música começou desde muito cedo, dentro de casa, e minhas primeiras lembranças já tem alguns sons juntos, não necessariamente músicas, mas lembro dos sons e das emoções em diversas situações.

A primeira vez que a música me mostrou uma direção a seguir foi entre 16 e 18 anos, naquela fase “terminando o colégio” e tentando encontrar qual caminho profissional seguir.

A música se apresentou como o caminho mais natural para mim, já que, nessa idade, eu recebia um valor razoável de dinheiro por conta das apresentações e aulas particulares que eu dava.

E assim começou em envolvimento mais sério e profundo com essa deusa chamada música, a quem ouvi e recorri inúmeras vezes, buscando saídas e soluções para os caminhos mais intrincados das questões da vida.

Toda vez que não sabia que rumo tomar a respeito de uma situação, eu me perguntava: o que a música está mostrando pra mim agora, através das relações e oportunidades que ela trouxe até mim?

Através da música, principalmente tocando junto, você é capaz de conhecer as pessoas de maneira rápida, saber muito sobre suas características e seu comportamento apenas prestando atenção em como tocam e como se portam neste momento tão especial e sublime que é fazer música coletivamente.

Mas pra você ser capaz de prestar atenção em outras coisas além da própria música que você está fazendo, é importante que as questões musicais estejam bem resolvidas para você.

Se você estiver em uma posição confortável dentro da sua função é possível prestar atenção à outras coisas.

Tenho certeza que quase todo mundo tem um amigo ou conhece alguém que adora mostrar músicas, mas quando aperta o play, fala sem parar durante a música toda.

Pois é, e existem esses tipos também entre os instrumentistas, gente que toca por cima de todo mundo, sempre que quiser e tiver vontade, em cima da melodia do cantor, em cima do improviso de um amigo solista e assim por diante.

Gente que toca em grupo, mas toca fechado e apenas para si, sem a capacidade de ouvir e prestar atenção nos outros, o que estão fazendo e o que estão dizendo e propondo com seus instrumentos.

Legal, chegamos na atenção, tá na moda né essa palavra?  Atenção, atenção plena, mindfulness, ou seja lá o nome que derem.

Quem é que ouve uma música inteira hoje em dia?

Quieto, parado e prestando atenção, sem o celular na mão?

Cada vez mais difícil isso, ainda mais com toda essa velocidade de informação e estímulos por todos os lados, o resultado é uma inquietude predominante diante da realidade como ela é.

Há os músicos por exemplo que durante um show, entre uma música e outra, respondem mensagens, olham as redes, ou até mesmo durante a execução de uma música, enquanto um solista aguarda o cantor terminar sua parte.

Pode ser só ansiedade, o que é uma pena nesse caso, porque o poder de cura e concentração no ato de tocar é revigorante, mesmo quando você não está tocando a sua parte mas está envolvido no show, você tem a chance de ouvir com total atenção o que está acontecendo e isso é terapêutico.

Há ainda os que falam que tiraram e aprenderam as canções de uma determinada apresentação e na hora do “vamo vê”, quando o bicho pega, você ouve com atenção e percebe que a pessoa está tocando tirando a mão, dando o famoso “migué”.

E quando isso acontece repetidas vezes, vai ficando cada vez mais difícil acreditar e contar com o que a pessoa está dizendo, pelo menos para um sujeito como eu, que me esforço em manter uma relação de honestidade e verdade com a música, que para mim é sagrada, e me deu tudo que tenho.

O que essas situações dizem sobre uma pessoa?

Quer dizer, vivemos um momento hoje em dia, em que estamos em um lugar querendo estar em outro, e vamos naturalizando isso com o passar do tempo

No entanto, só é possível estarmos de verdade em um único lugar, que é dentro de nós mesmos, e ali encontrar um local adequado e propício para experimentarmos a vida em sua plenitude, ou no mínimo o mais perto disso.

Se dentro de você mesmo você não encontrar conforto em existir em silêncio, não haverá ambiente, companhia ou música que supra sua falta, seu buraco existencial.

Te vejo quinta feira, um beijo.

 

* Edu Souza é cantor, compositor e músico profissional desde 2003, lançou 3 álbuns autorais, já atuou como professor e acompanha diversos artistas do cenário blues.

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